Meu Pai nunca me abandonou

Como um dos maiores empreendedores do agronegócio brasileiro superou as crises e construiu uma sólida carreira

Todos nós, independentemente de nossa origem, idade, etnia, preferências ideológicas, sexo ou classe social, ansiamos por um pai. É a figura paterna que nos ajuda, como seres humanos, a desenvolvermos nossa personalidade, individualidade e, por que não dizer, identidade pessoal. Como é bom ter um pai em quem se espelhar; um pai que nos sirva de exemplo, apoio e referencial. Particularmente no caso dos meninos, a presença paterna é que vai moldar sua noção de masculinidade e segurança – ideias, projetos e sonhos são melhores quando compartilhados de pai para filho. Como é ruim não ter um pai, seja pelas circunstâncias da vida ou porque a morte já o levou de nós, não é verdade? Essa perda costuma ser muito sofrida e pode ter amargas consequências.  Comigo, não foi diferente – só que, ao contrário da absoluta maioria das pessoas, não tive que superar a perda de um pai, mas de dois. Sim, dois! Como cheguei a isso, e de que maneira essa particularidade me afetou e, em contrapartida, me catapultou para a vida, é algo que desejo contar. 

Minha família é oriunda do Estado de São Paulo. Vim de uma família humilde, filho de um pintor automotivo e de uma enfermeira. Apesar da falta de maiores recursos, sempre superamos nossas dificuldades com muita perseverança e ajuda mútua. Quando menino, eu cultivava o sonho de, no futuro, me tornar um veterinário, tamanha era a minha afeição e interesse pelos animais. Antes de eu nascer, minha família mudou-se para Maringá, já que meu pai recebera uma proposta de trabalho ali. Como filho mais novo dentre quatro irmãos, fui o primeiro – e único – paranaense da família.

Minha mãe, Eneida, era uma daquelas mulheres de fibra, que se desdobrava em múltiplas tarefas. Além de trabalhar em sua profissão, administrava o lar e cuidava da educação dos cinco filhos, já que tínhamos, também, uma irmã adotiva, enquanto meu pai, Antônio, passava o dia fora, trabalhando pelo sustento da família. Ele desempenhava árduas tarefas longe de casa, labutando em usinas hidrelétricas e, por isso, viajava muito. As longas ausências e o distanciamento de minha mãe acabaram levando-o ao adultério. Foram vários os casos extraconjugais, durante muito tempo, até que minha mão, humilhada, resolveu dar um basta àquele casamento.

Assim, quando eu tinha apenas dois anos de idade, meu pai voltou à sua cidade natal, Ourinhos, no interior paulista. Desta maneira, a distância geográfica juntou-se ao vazio emocional que ele deixou no coração dos filhos. Sem carinho e assistência paterna, a imagem de meu pai foi-se apagando pouco a pouco de minha mente. Além disso, ele não nos ajudava financeiramente, e, com isso, minha mãe teve de se desdobrar no trabalho, obtendo um segundo emprego.

Passaram-se alguns anos e minha mãe, jovem ainda, deu uma nova chance ao amor: Quando eu tinha cinco anos, ela casou-se novamente. Finalmente, eu tinha em meu lar um “pai”! Conforme fui crescendo, nossa relação se tornou mais forte. Meu padrasto era um homem presente, sempre me apoiava e dava auxílio em todas as minhas necessidades. Como não podia ter filhos naturais, ele meio que me adotou, e viramos o que se chama de unha e carne. Todo esse carinho e amor por mim resultou numa forte ligação entre nós. Eu passava mais tempo com ele do que com minha mãe, já que, depois das tarefas escolares, trabalhava com ele no comércio que mantinha ao lado de nossa casa. Nos tempos de estudante, quando eu aprontava alguma peraltice – e, devo reconhecer, não foram poucas – e a diretoria exigia a presença de um responsável, ele sempre contornava as situações, seja com sua maneira simpática de ser, seja através de um ou outro presentinho que levava da mercearia para a diretora e os professores. Aquela mercearia foi meu primeiro emprego, quando eu tinha apenas sete anos de idade. Ali, eu aprendi a ter gosto pelo trabalho e pela capacidade de produzir algo e ser útil à minha família e, por que não dizer, à sociedade.

Só que o casamento de Oséias e minha mãe começou a enfrentar alguns problemas. Boa parte deles, em função do comportamento de meus irmãos mais velhos, que nunca aceitaram bem sua presença em nossa casa, E como eles estavam nos turbulentos anos da adolescência, não respeitavam a figura de meu padrasto e os abusos que eles cometiam acabaram influenciando a relação. Quando chegou o momento das noitadas, das bebidas e das más companhias, a situação entrou em colapso, já que meu padrasto não conseguia colocá-los na linha, como gostaria.

A situação foi ficando cada vez mais insustentável, até que meu padrasto decidiu colocar um fim naquilo. E minha mãe se viu na terrível situação de ter de fazer uma escolha. E, assim como, no passado recente, ela já havia escolhido os filhos, novamente esta foi sua decisão. E, infelizmente, ocorreu a separação. Eu não compreendia exatamente o que estava acontecendo, só percebi quando o vi saindo de casa, com suas coisas. Como eu viveria sem meu pai por perto? Sim, pai – afinal, era assim que eu o via, pois não tinha nenhum contato com meu pai biológico. Todo meu conceito de paternidade estava em meu padrasto. O impacto daquela separação foi tão forte que fiquei doente: tive convulsões e uma febre que não cessava. Tanto, que os médicos não conseguiam descobrir o que eu tinha. Só depois de vários exames ficou claro que minha enfermidade não era de natureza clínica. Os sintomas eram de cunho emocional, psicossomáticos.

Não me dei por vencido. Eu não queria ficar órfão novamente! Tentei de tudo para reconciliá-los, até mesmo um estratagema nada recomendável: a mentira. Traindo a confiança de Oséias, eu fazia pequenos furtos de doces e outros produtos gostosos e levava para minha casa, dizendo que eram presentes dele. Certa vez, tirei dinheiro do caixa e comprei um uniforme completo de goleiro (um antigo sonho a que nunca tivera acesso) e contei à minha mãe que fora presente de Oséias. Em pouco tempo, meu ex-padrasto, que era um homem inteligente, percebeu o logro. Tive de assumir os desvios que estavam acontecendo. Ele foi à minha casa conversar com minha mãe. Foi um dos dias mais tristes de minha vida! A vergonha foi tão grande que pensei em fugir de casa. Até cheguei a ensaiar uma fuga, a pé pela estrada, mas logo desisti e voltei para casa pelas mãos da Polícia Rodoviária.

Após um ano de separação, Oséias conversou comigo e disse que não adiantava eu tentar reaproximá-lo de minha mãe. Ele falou que não adiantava nem tentar, pois não havia possibilidade de volta – inclusive, ele estava namorando outra pessoa. E ainda teve mais, algo muito duro de ouvir: um dia, ele pediu para que eu não mais o chamasse de pai, como eu fazia com tanto carinho! Meu mundo desmoronou com semelhante pedido... Meu Deus! Mais uma vez perdendo um pai? Como conseguiria sobreviver a mais este choque em minha vida?

Um dia, ele pediu para que eu não mais o chamasse de pai

Morávamos em um bairro de periferia, muito humilde, onde boa parte dos jovens se envolvia com drogas, furtos ou bebida. Até mesmo meus irmãos, tão carentes emocionalmente quanto eu, chegaram a se envolver com isso. A dúvida latejava dentro de minha mente: deveria, afinal, seguir aquele caminho? Por outro lado, o que eu tinha a perder? Abandono a escola e acompanho aqueles garotos em seus descaminhos? Mas eu não queria usar estes tipos de práticas como “bengala” para minha dor.

INICIATIVA E EMPREENDEDORISMO

Minha vida continuou neste diapasão, com várias dificuldades. Eu me virava como podia, fazendo pequenos serviços e biscates. Com eles, descobri dois aspectos de minha vida que seria fundamental, principalmente na idade adulta: a iniciativa e o empreendedorismo. O terceiro aspecto, e este, mais decisivo ainda, viria alguns anos depois, quando minha irmã mais velha, uma figura muito presente e essencial em minha infância e juventude, me levou a uma reunião. Ali, eu ouvi falar de um Deus que nos ouve, está sempre conosco e que pode ser um Pai para nós. Naquela noite, muito comovido, conversei com Deus de uma maneira como nunca dantes havia feito. De maneira bastante madura para um pré-adolescente, lancei diversas perguntas ao Senhor; dúvidas existenciais, questões que me traumatizaram e inseguranças quanto ao futuro. Uma das principais perguntas foi de que, caso eu fizesse um compromisso com o Senhor, algum dia ele me pediria para não mais chamá-lo de Pai? E eu ouvi sua resposta, assim como se fosse um amigo que estivesse bem ali, do meu lado:

– Eu nunca vou te abandonar, vou te proteger e te dar um novo futuro. Confie em mim!

A partir dali, com apenas 12 anos de idade, iniciei um relacionamento íntimo com Deus. Todas as minhas atividades e decisões, daquele momento em diante, passariam pela oração e pela confiança irrestrita em Cristo. Meu sonho de ser veterinário, de constituir família e ser um pai presente, tudo isso eu apresentei diante dele.

Desempenhei diversas funções, pois sempre tive grande disposição para o trabalho, das atividades mais prosaicas e inusitadas – como servente de pedreiro, vendedor de sorvete, limpador de tobogã e removedor de estrume de vaca –, a tarefas mais convencionais, como contínuo de escritório e vendedor. Prossegui com esmero não somente no trabalho, mas nos estudos também. Foi quando chegou à época do vestibular e, munido de informações sobre o mercado de trabalho, troquei a Veterinária pela Zootecnia. Prestei vestibular para o curso que acabara de conhecer e, para minha surpresa, passei em primeiro lugar para a Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Cursei a graduação com muito empenho por aprender tudo o que pudesse, e logo descobri que aquela carreira, se bem administrada, poderia me levar a uma boa condição financeira. Antes disso, porém, dei o passo mais importante de minha vida, além de minha decisão por seguir Jesus: apesar do aperto financeiro comum a todo jovem universitário oriundo de família pobre, resolvi me casar com uma linda moça que conhecera na faculdade. No início de nossa vida a dois, tivemos que superar muitas adversidades, pois meu salário não era suficiente para suprir todas as despesas mensais. Nosso apartamento era humilde e equipado com o mínimo indispensável à sobrevivência: uma geladeira cuja porta era fechada com uma câmara de ar de pneu de bicicleta, um colchão e nada mais, além de muito amor e da certeza de que o nosso Deus, o nosso verdadeiro Pai, estaria para sempre conosco, abençoando tudo o que fizéssemos. Desde o primeiro dia de nosso casamento, adquirimos o abençoado hábito de apresentar ao nosso Pai, de joelhos, as nossas súplicas, sonhos e gratidão. Rogávamos que não nos faltasse sua presença e que, ao tempo certo, ele, por seu infinito amor, nos prosperasse – e que isso servisse para glorificar o seu nome e para testemunhar de seu poder.

Senti que o Senhor falava comigo: ‘Eu nunca vou te abandonar, vou te proteger e te dar um novo futuro. Confie em mim!’

O empresário Reinaldo Morais: espírito empreendedor, boas iniciativas e muita fé levaram-no ao sucesso

O tempo passou e Deus foi-nos acrescentando mais e mais. Inspirado pelo Senhor, encetei algumas boas iniciativas profissionais que me renderam não apenas bons lucros como uma expertise muito grande na área da avicultura e suinocultura. Especialista em nutrição animal, aprimorei novas técnicas de criação e aproveitamento de matérias primas e recursos humanos e materiais. Fui o idealizador do conceito de condomínios avícolas, projeto inovador e pioneiro no segmento, com reconhecimento internacional. Dei passos ousados em minha carreira e creio, de todo coração, que Deus honrou minha iniciativa. Logo, passei de empregado a empresário, sempre cioso da ética e do papel social do trabalho.

Com o tempo, os filhos vieram a completar a nossa vida. Hoje, vejo com imensa felicidade e família que Deus me deu a honra de formar e cuidar. – minha mulher, Eliane; e meus filhos Matheus, Ana Carolina e Ana Beatriz. Temos um forte negócio dentro do ramo de abatedouros de frango, um dos maiores e mais modernos, com grande importância no sul do Brasil. Sob minha iniciativa e responsabilidade, foram implantadas grandes empresas do setor, como a BR Frango e a Frangobras. Atualmente radicado no Mato Grosso, administro ali a Suinobras, um dos grandes grupos brasileiros na área de produção e processamento de carne suína. Até o fim do ano de 2018, inauguraremos mais um empreendimento em terras matogrossenses, um novo abatedouro de suínos, que também será um dos maiores e mais modernos do Brasil e gerará milhares de empregos.

Ninguém pense que a jornada foi ou tem sido fácil. Além de muito esforço e preparo, tive de superar, ainda, obstáculos que jamais esperei encontrar. Há alguns anos, sonhei em ampliar minhas atividades, abrindo meus próprios frigoríficos. No entanto, ser empreendedor, em nosso país, é tarefa das mais difíceis. Embora nós, empresários, geremos empregos e tributos, o poder público, muitas vezes, não ajuda em nada – pelo contrário, atrapalha bastante, com seus entraves burocráticos e exigências desprovidas de sentido. Isso, quando não esbarramos nas teias da corrupção. Em pelo menos dois de meus empreendimentos, tive de superar chicanas político-partidárias, autoridades desonestas e o famoso custo Brasil, responsáveis por boa parte da crise que nosso país enfrenta. Por causa disso, quase fui à bancarrota, há cerca de quatro anos. No entanto, sempre contando com a ajuda e a inspiração de nosso Pai, pude seguir em frente e o Senhor me honrou, restituindo-me ainda mais do que havia sido perdido.

Pois é… Aquele menino de origem humilde, que perdeu dois pais, hoje, por onde vai, proclama o amor do verdadeiro Pai e tem seu nome respeitado. Esse Pai é o Senhor, nosso Deus, que provou seu infinito amor enviando o próprio Filho, Jesus Cristo, para nos oferecer, de graça, a salvação eterna. Só ele transforma os destinos e elimina as feridas das perdas que sofremos nesta vida. Portanto, se você ainda não conhece esse maravilhoso Pai, aceite a Jesus como seu Salvador e tenha sua vida e sua história transformadas; a paternidade divina é algo que está à nossa disposição 24 horas por dia, e pela vida toda. Usufrua desta bênção de ser chamado filho de Deus!

Reinaldo Gomes de Morais é empresário no ramo frigorífico, escritor, preletor internacional e Diretor Nacional da Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep)